sábado, 15 de fevereiro de 2014

O "Santo Graal" da tecnologia do varejo







Uma tecnologia que unifique os pagamentos de todos os tipos de cartões e contas seria um grande passo no varejo global.

Por SERGIO KULPAS

O século 21 tem sido pródigo em inovações tecnológicas para o comércio. Do atendimento ao cliente no balcão da loja até as operações de estoque e back-office, existe hoje uma grande oferta de aparelhos, softwares, sistemas e aplicativos que facilitam a vida do comerciante e do consumidor, com potencial para melhorar muito a relação entre eles. Aqui no Varejo High-Tech acompanhamos esse avanço há vários anos, e é realmente surpreendente o salto tecnológico no varejo. Basta digitar "tecnologia" na busca deste blog para se ter uma ideia de quantas novidades surgiram nos últimos cinco anos.

Mas de todos os gadgets e programas modernos, a tecnologia mais desejada é um sistema que UNIFIQUE as formas de pagamento eletrônico, de modo fácil, prático, e, acima de tudo, seguro.

É ainda uma tecnologia hipotética, apesar de tantas promessas nesse sentido. Praticamente a cada semana é lançado um novo aplicativo ou aparelho que promete unificar os cartões de débito, crédito, vales de presentes, programas de milhagem, etc. Em muitos casos, são propostas inteligentes e bem formuladas. Quer dizer, são tecnologicamente bem pensadas, mas esse é o menor dos problemas para resolver essa questão tão delicada que são os pagamentos eletrônicos.

Existem vários impedimentos para que essa mítica tecnologia se torne realidade em um futuro de curto prazo. Em primeiro lugar, ainda há uma cultura arraigada de desconfiança a respeito de único cartão ou aparelho (ou um aplicativo de smartphone) que integrasse todas as contas de uma pessoa. É a ideia de "todos os ovos em uma única cesta" que deixa os consumidores apreensivos -- bastaria uma falha na segurança do programa para que criminosos tivessem acesso a todos os valores de diversas contas. E os casos de falhas de segurança na proteção de dados sigilosos como números de contas são muito abundantes, em vários países do mundo. Grandes varejistas dos EUA têm seus sistemas frequentemente invadidos por hackers, que conseguem acessar números de cartões de crédito e débito de milhões de clientes.

Para piorar, foi revelado que a agência nacional de segurança dos Estados Unidos (NSA) não apenas espiona os cidadãos em escala praticamente global como também fechou acordos secretos com empresas de segurança digital para "enfraquecer" a criptografia que poderia proteger melhor os dados sigilosos -- assim a agência de espionagem teria acesso mais fácil a dados privados. A ação do governo americano abalou ainda mais a confiança do consumidor -- e sem confiança, nenhum sistema que mexe com dinheiro das pessoas tem grande chance de sucesso.

O outro grande obstáculo para o surgimento dessa tecnologia é uma herança ruim do século 20. Existe hoje, como há décadas, uma permanente guerra de padrões entre empresas concorrentes. Cada grande empresa de tecnologia ou organização financeira tem seu próprio padrão para pagamentos eletrônicos, e são raros os casos em que os rivais concordam em adotar um sistema em comum para facilitar essas operações. Basta ver que a grande maioria dos estabelecimentos comerciais tem três ou quatro máquinas diferentes para pagamentos com cartões.

É preciso adotar padrões gerais de criptografia, transmissão de dados, protocolos de acesso a contas de diversos bancos e operadoras de cartões, e oferecer aos varejistas um sistema integrado que não represente um custo elevado demais.

Acima de tudo, é preciso que todos (bancos, empresas de tecnologia e varejistas) se unam em um esforço para conquistar o cliente para a tecnologia, provando que as vantagens de um sistema unificado de pagamentos são muito maiores que os riscos em potencial. Ou provar que os riscos foram drasticamente reduzidos. Até lá, essa tecnologia tão importante será como o "Um Anel" dos romances de J.R.R. Tolkien: um objeto de imenso poder, mas apenas na ficção.

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