Price Check, o novo aplicativo de comparação de preços lançado pela loja online Amazon.com chegou como uma bomba no setor de varejo dos EUA. Em tempos de crise econômica, a competição pelo interesse (e dólares) dos consumidores se torna ainda mais acirrada.
O novo app da Amazon (para iPhone e Android) causou polêmica ao permitir que os clientes escaneiem códigos de barras em lojas físicas e comparem os preços com as ofertas da Amazon. Muitos disseram que esse aplicativo dá à gigante online uma vantagem injusta -- afetando especialmente os varejistas de menor porte.
Um dos motivos para a reação contrária no setor é que os varejistas eletrônicos não pagam impostos sobre as vendas nos EUA nos estados onde não possuem presença física (escritórios, centrais de distribuição e logística, armazéns, etc.). Essa brecha fiscal permite que a Amazon e similares tenham vantagens sobre os concorrentes tradicionais.
Apesar disso, muitos analistas do setor reconhecem que aplicativos como o Price Check são um passo lógico na evolução do varejo. Até recentemente, os consumidores precisavam visitar as lojas físicas, verificar os preços manualmente e testar os produtos antes de comprar. Agora, o cliente pode fazer essa verificação de preços em tempo real, no espaço da loja concorrente. O Price Check acabar tornando as lojas concorrentes em verdadeiras "vitrines" da Amazon -- o consumidor pode tocar e testar um produto exposto e depois comprá-lo na loja virtual.
É motivo de sobra para incomodar os concorrentes. E o lançamento do aplicativo já está gerando muita repercussão negativa na imprensa, devido às reclamações dos varejistas.
Um detalhe muito interessante do Price Check é que ele transfere para o consumidor a tarefa de pesquisar preços para a Amazon. Cada vez que um cliente usa o app para comparar o preço de algum produto, esse dado é registrado pela Amazon e passa a integrar uma base de preços. Em vez de gastar milhões de dólares com esse tipo de levantamento de preços, a Amazon passa a contar com uma enorme multidão de "voluntários" que checam preços diariamente, em lojas de todo o país.
E isso é uma das maiores vantagens da era moderna: usar os próprios consumidores para gerar informações valiosas para o seu negócio, e por um custo irrelevante ou muito baixo. As tecnologias digitais possibilitam a redução a praticamente zero de um dos maiores custos do varejo: as informações dos clientes.
E quanto às críticas negativas na imprensa? A Amazon é regularmente apontada como uma grande vilã do setor de varejo, o equivalente online da rede Wal-Mart: ambas são constantemente criticada por suas práticas comerciais e trabalhistas. Os analistas mais calejados (ou cínicos) dizem que publicidade negativa não deixa de ser publicidade. A reclamação dos concorrentes na mídia tem o efeito óbvio de aumentar a percepção dos consumidores sobre um aplicativo que pode gerar uma economia significativa nas compras. Não custa lembrar que os consumidores norte-americanos estão agudamente conscientes de seus orçamentos, em busca permanente de melhores ofertas, promoções e descontos.
Uma consequência secundária de aplicativos como o Price Check e outras práticas do e-commerce pode ser a criação de uma norma federal nos EUA, permitindo que todos os estados do país possam recolher impostos sobre as vendas online, independente da presença física do varejista eletrônico no estado em questão. E mesmo se isso ocorrer, a Amazon.com continuará em uma posição vantajosa. Mesmo que uma taxa entre 6% e 10% seja aplicada sobre as vendas, a Amazon ainda poderá oferecer preços mais atraentes que a maioria dos seus concorrentes, tanto as redes de tijolo-e-cimento como outros varejistas eletrônicos.
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