quarta-feira, 16 de março de 2011

O que aconteceu com o RFID no varejo?

Uma das maiores promessas de transformação na logística de cadeia de suprimentos do varejo está custando muito tempo e muito dinheiro para se materializar. No começo da década passada, as etiquetas (ou ID) com microtransmissores de rádio (RFIDs) foram anunciadas como uma grande revolução no varejo. Todos os gurus de varejo e tecnologia previram um salto gigantesco na eficiência e velocidade de circulação das mercadorias, desde o fabricante até o consumidor final. Dez anos depois, essa visão ainda não se realizou.
O que aconteceu? Segundo Dan Gilmore, editor-chefe da publicação especializada Supply Chain Digest, a implementação dos RFIDs pelo varejo mundial está praticamente paralisada, especialmente no que se refere a produtos industrializados de consumo (que incluem alimentos, enlatados, e itens de higiene e limpeza). O setor de vestuário parece ser o único onde a aplicação dessa tecnologia continua avançando, com o uso de etiquetas individuais nas peças de roupas.
Gilmore aponta como muito significativo que o Walmart, um grande proponente da tecnologia, também não tenha avançado em seus programas de RFIDs. Há alguns anos, a maior rede de supermercados do mundo anunciou programas ambiciosos para obrigar seus fornecedores a incluir RFIDs em todos os paletes e caixas de mercadorias enviados aos centros de distribuição da rede. Segundo um porta-voz da Procter & Gamble, uma das maiores fabricantes de itens de consumo do mundo, o Walmart aos poucos desativou os programas de implementação de RFIDs em sua organização. A P&G, nesse meio tempo, desenvolveu padrões amplamente aceitos para equipar caminhões e caixas de mercadorias com RFIDs. As redes Tesco nos EUA e Metro na Alemanha, que continuaram a manter programas de RFIDs depois que o Walmart perdeu o ímpeto, também não apresentaram nenhuma novidade nos últimos três anos.
Segundo especialistas em cadeia de suprimentos, mesmo com o preço individual da etiqueta eletrônica chegando entre 5 e 7 centavos de dólar, esse custo ainda é muito alto -- seria equivalente ao custo de embalagem de muitos produtos. Esse custo somado ao encolhimento das margens de lucro causado pela crise financeira torna o RFID pouco atraente para a aplicação generalizada nas gôndolas de mercados e supermercados.

Segundo Gilmore, o avanço dos RFIDs foi retardado por uma série de fatores:
1)    As empresas de produtos de consumo e o Walmart não fizeram as contas corretamente para avaliar o retorno depois do considerável investimento na tecnologia. As outras redes de varejo ficaram esperando os resultados do Walmart, e não se animaram a aderir.
2)    Uma certa "mentalidade de rebanho" contribuiu para essa situação, com um alto grau de "hype" alimentado pelos fabricantes de etiquetas e aparelhos, partes da mídia e consultorias especializadas.
3)    Muitas empresas de produtos industrializados de consumo continuam a acreditar que existe um grande potencial para retorno de investimentos (ROI) em categorias específicas de produtos (itens de valor adicionado mais alto, por exemplo). Mas o Walmart suspendeu esses programas sem dar explicações e outros varejistas não quiseram arriscar. Os fabricantes não podem prosseguir sem a parceria com os varejistas.
4)    O Walmart errou ao tentar impor normas generalizadas de adoção de RFIDs para centenas de fornecedores. A Procter & Gamble e outras empresas argumentam que seria melhor uma abordagem individual, baseada no valor dos produtos. O foco no uso de RFIDs em peças de vestuário é prova de que essa estratégica pode funcionar.
5)    As firmas de capital injetaram centenas de milhões de dólares em programas de RFID, esperando colher frutos com a adoção generalizada. Isso não ocorreu, mas o dinheiro serviu para fazer a tecnologia evoluir consideravelmente nos últimos anos.

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